Absorção – Introdução

Olá caro leitor! Espero que você esteja bem! Hoje iremos introduzir um dos assuntos mais importantes da farmacologia, a absorção de fármacos! Mas antes de entendermos como funciona este processo é necessário responder a seguinte pergunta:

O que é farmacocinética?

Bom, a farmacocinética pode ser traduzida como “o que o corpo faz com o medicamento“. Para que fique claro para você, leitor, quando fazemos uso de medicamentos para qualquer finalidade é necessário usar uma via de administração, correto? Logo, quando o medicamento entra em contato com o nosso corpo ele pode ser absorvido, distribuído, biotransformado ou eliminado. O estudo de como o corpo absorve, distribui, biotransforma (metaboliza) ou elimina o fármaco é conhecido como farmacocinética. Outra vertente muito importante a ser estudada é a Farmacodinâmica, que estuda “o que o medicamento faz com o corpo“. Diferente da farmacocinética, na farmacodinâmica iremos estudar, a grosso modo falando, como a dipirona trata a sua dor de cabeça, por exemplo. Porém, são cenas dos próximos capítulos.

Como você pôde notar, o estudo da farmacocinética pode ser divido em 4 fases principais. A Absorção, Distribuição, biotransformação (Metabolismo) e Excreção (ADME). Neste tópico iremos abordar, de fora introdutória, a Absorção e suas características importantes, tanto para a farmacologia básica tanto para a clínica.

Segundo Goodman & Gilman (2019), a absorção é definida como sendo:

“…transferência de um fármaco do seu local de administração para o compartimento central“.

Já Rang & Dale (2016), traduz absorção como:

“…a passagem de um fármaco de seu local de administração para o plasma”.

Note que existe uma palavra-chave para definir absorção: Passagem. Se não houver a “passagem” do local de administração para a corrente sanguínea, não absorvemos. Sendo assim, fica claro que a via intravenosa (endovenosa), por exemplo, não possui absorção, uma vez que não existiu a passagem do medicamento para a corrente sanguínea, o mesmo foi administrado diretamente no sangue.

Neste ponto, normalmente surge uma dúvida muito pertinente no aluno: “Para que se tenha efeito, o fármaco precisa ser absorvido?” e a resposta é não. A administração tópica de esteroides na pele, não faz-se necessária a absorção para que o mesmo demonstre o seu efeito, ou ainda, na inalação de um broncodilatador na forma de aerossol, principalmente no tratamento da asma. Outro caso bem evidente é o uso de antiácidos como as associações entre carbonato de cálcio, hidróxido de alumínio e hidróxido de magnésio. Perceba que o alvo do medicamento é a neutralização do ácido estomacal, não sendo necessário a absorção para que o seu efeito seja evidenciado.

Nesta combinação, inclusive, o hidróxido de magnésio possui uma ótima capacidade de neutralização dos ácidos estomacais. Os sais de magnésio promovem um efeito laxativo que contrabalanceia a tendência do hidróxido de alumínio causar obstipação (“prisão de ventre”). No caso do carbonato de cálcio, ele é classificado como antiácido não sistêmico pelo fato de não produzir alcalose, ponto muito importante para a clínica. Já o hidróxido de alumínio é comprovadamente um dos mais efetivos neutralizantes do ácido clorídrico. Sendo assim, fica clara a relação absorção – efeito. Tudo vai depender do alvo que se pretende atingir.

Figura 1 – Vias de Administração / Absorção e Distribuição / Eliminação.

Fonte: RANG, H. P. et al. Rang & Dale farmacologia. 8 Rio de Janeiro: Elsevier, 2016, 760 p. 

Agora que entendemos o que seria a base da absorção precisamos entender outro ponto bem importante: Cada via de administração tem a sua peculiaridade quando se trata da quantidade de fármaco a ser absorvida. E, dentro desse entendimento, surge um outro termo muito comum de confundir entre os alunos: a Biodisponibilidade.

Goodman & Gilman (2019) traduz o termo como sendo:

“…o percentual com que a dose de um fármaco administrado alcança seu local de ação ou um líquido biológico (em geral, circulação sistêmica) a partir do qual o fármaco tem acesso ao seu local de ação”.

Katzung (2017), simplifica afirmando que:

“A biodisponibilidade é definida como a fração do fármaco inalterado que alcança a circulação sistêmica logo depois da administração por qualquer via”.

Logo, o termo biodisponibilidade deve ser usado para descrever a fração de uma dose que chega à circulação sistêmica na forma de fármaco intacto. Neste caso, deve ser levando em conta tanto a absorção quanto a sua degradação metabólica local. Nas bulas dos medicamentos, normalmente, vem informando a biodisponibilidade para o profissional que a lê, uma vez que existem situações (como as interações medicamentosas e com alimentos) que podem reduzir/aumentar a biodisponibilidade do medicamento. Essa variação de biodisponibilidade pode comprometer o tratamento, causar efeitos adversos graves e, dependendo da interação, até o óbito do paciente. Leitor, tenha sempre isso em mente na hora de analisar um paciente polimedicado. Lembre-se de avaliar o paciente como um todo e que a idade e fatores fisiológicos são importantes para a sua anamnese.

Concluímos atestando a importância de se entender as terminologias em farmacologia, tendo visto que vários livros vão citá-las nas mais variadas formas. Não leia apenas uma fonte, use mais de um livro/artigo para estudar, pois a linguagem de um pode ser melhor para o seu entendimento do que o de outro.

Sobre esse tópico, o que eu gostaria que você aprendesse:

  • O que é farmacocinética?
  • Como podemos definir absorção?
  • Como podemos definir biodisponibilidade?
  • Dê exemplos de fármacos que não necessitam de absorção para se obter o seu efeito.

Teve dúvida/sugestão? Deixa um comentário pra mim! Vamos estudar e aprender juntos! Forte abraço!

Prof. Victor Celso.

Referências

RANG, H. P. et al. Rang & Dale farmacologia. 8 Rio de Janeiro: Elsevier, 2016, 760 p.;

KATZUNG, Bertram G.; TREVOR, Anthony J. (Orgs.). Farmacologia básica e clínica. 13 Porto Alegre: McGraw-Hill, 2017, 1202 p.;

BRUNTON, L.; HILAL-DANDAN, R. ; KNOLLMAN, B. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman e Gilman. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2019. 1744 p.

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